O Zen foi introduzido na China por Bodhidharma no ano 527 d.C. .O Zen pode ser considerado como o produto de longas tradições nas culturas indiana, chinesa e japonesa.
Conta-se que um dia o Buda ia fazer um discurso a um grande numero de discípulos, todos o aguardavam com muita ansiedade para escutar o que ele tinha para falar. Mas ele não disse nenhuma palavra. Ele apenas se sentou silenciosamente, contemplado uma flor que estava em sua mão. Todos se espantaram com o que Buda estava fazendo e começaram a ficar inquietos. Ninguém entendia porque ele apenas estava sentado olhando para a flor em silêncio.
Após um tempo prolongado de expectativa por parte dos discípulos, muitos constrangidos pelo silêncio do Mestre até aquele momento, o silêncio foi quebrado por uma risada. Muitos consideraram um grande absurdo alguém rir, uma grande falte de respeito. Buda levantou os olhos para ver quem estava rindo e disse:
– Mahakashyapa, venha aqui.
Era justamente a pessoa que havia rido. Essa é a única vez em que esse discípulo chega a ser mencionado nas escrituras. Buda deu a flor a Mahakashyap e disse:
– Tudo o que pode ser dito, eu já disse a todos; e tudo o que eu não disse, dou a Mahakashyapa.
Apenas o não essencial, o superficial, o utilitário pode ser dito. A mais significativa transferência de conhecimento somente é possível no silêncio.
Assentindo com a cabeça, apenas o venerável Mahakashyapa mostrou ter conseguido apreender e sentir o significado do gesto do iluminado.
Comenta-se que esse gesto, essa transmissão silenciosa de coração para coração entre Buda e Mahakashyapa deu inicio ao Zen-budismo. Por séculos, o nome de Mahakashyapa não foi mais mencionado. Então, mil e cem anos após o ocorrido, uma pessoa na China declarou:
– Sigo a linhagem de Mahakashyapa, o homem a quem Buda deu a flor. Sou seu discípulo.
Essa pessoa era Bodhidharma, que saiu da Índia em direção à China e que é o primeiro patriarca do Zen-budismo.
– Tenho a flor ainda fresca – dizia ele, referindo-se a algo que não pode deixar de estar fresco nunca. Alguém lhe perguntou:
– Onde está a flor?
Bodhidharma respondeu:
– Está diante de você. Eu sou aquela flor.
Foi assim que Bodhidharma, o primeiro Patriarca do Zen-budismo na China e vigésimo oitavo Patriarca na linha do Buda deu inicio ao que hoje se apresenta como Zen-budismo. Após isso Bodhidharma se fixou no Templo Shorin (Shao-Lin), onde praticou tenazmente o zazen durante nove anos, razão pela qual esse período veio a ser conhecido como seus "nove anos defronte da parede".
Bodhidharama transmitiu o Dharma para Eka (Hui-K’o) que posteriormente se tornou o segundo Patriarca do Zen-budismo na China.
Depois do estabelecimento do Zen no Templo Shao-lin, originou-se a linhagem chinesa de monges e patriarcas, ou ancestrais. A partir do sexto Patriarca chinês, Eno (Hui-neng) (638-713), o Zen absorveu muitos ensinamentos do taoísmo e contou com vários monges sucessores.
Após Eno, o Zen dividiu-se em duas correntes, uma do norte e outra do sul. A corrente do norte, que enfatizava a teoria da iluminação gradual, declinou rapidamente. Já a corrente do sul, que enfatizava a iluminação súbita, floresceu especialmente durante a dinastia T'ang (618-907) e no início da dinastia Song (960-1279). Esta doutrina tinha como o base o Lankavatara Sutra. A corrente do sul deu origem a diversas linhagens chamadas de cinco casas e sete escolas (goke-shichishû):
1. Ts'ao-tung (Sotô)
2. Yung-men (Unmon)
3. Fa-yen (Hôgen)
4. Kuei-yang (Igyô)
5. Lin-chi (Rinzai)
Lin-chi Yang-ch'i (Rinzai Yôgi)
Lin-chi Huang-lung (Rinzai Ôryô)
Após a perseguição ao budismo iniciada pelo imperador taoísta Wu-tsung em 845, o budismo chinês teve muitas perdas. Mais tarde, o Zen tornou-se muito eclético, fundindo-se com a escola da Terra Pura (Ching-t'u) e formando a tradição predominante até hoje no budismo chinês. No Japão, a única escola Zen que continua mantendo elementos Terra Pura é a linhagem Rinzai Ôbaku, levada ao Japão em 1644 pelos monges Itsunen e Nagasaki.
O Zen atingiu o seu auge com os monges Baso Dôitsu (709-788), Hyakujô EkaiTokusan Senkan (781-867), Tozan Ryokai (807-869), Jôshû Jûshin (778-897) e Rinzai Gigen (?-867).
As linhagens que mais se destacaram na China foram a Rinzai e a Sotô. A primeira linhagem, Rinzai, enfatiza o uso dos kôan, histórias com expressões paradoxais que procuram apontar a natureza búdica instantaneamente, "aqui e agora". Entre as principais coleções de kôan, estão a Passagem sem Portão (Mumonkan), o Registro do Penhasco Azul (Hekiganroku), o Tsung-jung-lu (Shôyôroku) e uma coleção coreana de Mil e Setecentos Kôans (cor. Yom-sang).
A outra linhagem, Sotô, enfatizava a prática da meditação sentada (zazen). Esta prática não é uma "meditação" propriamente dita, nem um método para alcançar a iluminação, mas um estado de mente alerta, sem pensamentos ou focalização. Existe também a meditação em pé (kin'hin).
Durante o período Kamakura (1185-1333), o Zen-budismo foi introduzido no Japão. Em 1191, o monge japonês Myôsan Eisai (1141-1215) levou a linhagem Rinzai da China para o Japão. Em 1227, outro monge japonês, Eihei Dôgen (1200-1253) levou a linhagem Sôtô.
A escola Rinzai tornou-se popular entre os samurais, shôguns e aristocratas, influenciando o código de honra dos guerreiros ou Bushidô. Eisai deixou trabalhos muito significativos para o Zen e para a cultura do chá no Japão. A escola Rinzai destacou-se durante os períodos Yoshino (1336-1392) e Muramachi (1392-1482), especialmente nas regiões de Kyôtô e Kanto. O ramo específico do monge Eisai, chamado Rinzai Ôryô, acabou desaparecendo, mas o ramo Rinzai Yôgi continua existindo até hoje, principalmente, devido ao trabalho do mestre Hakuin Ekaku.
A escola Sotô foi difundida principalmente entre os camponeses. Dogen fundou monastério Daibutsu-ji (1243), que depois passaria a ser chamado Eihei-ji, tornando-se o principal centro da escola Sôtô Zen. Hoje a escola Sotô de Dogen é a linhagem Zen mais difundida e praticada no Japão.
O Zen influenciou profundamente a cultura japonesa, como a cerimônia do chá (chanoyu), as artes marciais (budô), as poesias (haiku) a caligrafia (shodô), a pintura (sumi-e), o teatro (nô), os arranjos florais (ikebana), o bonsai, a jardinagem, o artesanato, a cerâmica e a arquitetura.